domingo, 17 de abril de 2011

Acessibilidade e Inclusão Digital

Amanda Meincke Melo, junho de 2005


Em diferentes contextos, há entendimentos variados para a expressão acessibilidade - às vezes sutis -, que podem levar a propostas diferenciadas de design. Acessibilidade tem sido associada ao compromisso de melhorar a qualidade de vida de pessoas idosas e de pessoas com deficiência. Entretanto, ela também está relacionada com a qualidade de vida de todas as pessoas, como coloca Romeu Kazumi Sassaki, em [PDF] Mídia e deficiência, ao dizer que para uma sociedade ser acessível é preciso verificar seis quesitos básicos:

Acessibilidade Arquitetônica
não deve haver barreiras ambientais físicas nas casas, nos edifícios, nos espaços ou equipamentos urbanos e nos meios de transportes individuais ou coletivos.
Acessibilidade Comunicacional
não deve haver barreiras na comunicação interpessoal, escrita e virtual.
Acessibilidade Metodológica
não deve haver barreiras nos métodos e técnicas de estudo, de trabalho, de ação comunitária e de educação dos filhos.
Acessibilidade Instrumental
não deve haver barreiras nos instrumentos, utensílios e ferramentas de estudo, de trabalho e de lazer ou recreação.
Acessibilidade Programática
não deve haver barreiras invisíveis embutidas em políticas públicas e normas ou regulamentos.
Acessibilidade Atitudinal
não deve haver preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações.

Ainda, para Sassaki, a denominada acessibilidade tecnológica não constitui um outro tipo de acessibilidade, pois o aspecto tecnológico deve permear os demais, à exceção da acessibilidade atitudinal.

Promover a acessibilidade, em seu sentido mais amplo, portanto, é indispensável ao "movimento" contemporâneo de inclusão digital, considerado um dos mecanismos para viabilizar a inclusão social. A inclusão digital deve transcender aspectos relativos ao custo dos artefatos de computação, acesso físico indiscriminado a esses recursos e educação para o uso da tecnologia.

Atualmente, há uma diversidade de sistemas computacionais desenvolvidos com a intenção de serem utilizados em contextos distintos, por pessoas com diferentes características e interesses, utilizando artefatos de hardware e de software diversificados. Entre esses sistemas, podem ser incluídos muitos daqueles que foram desenvolvidos para serem acessados e utilizados via Web.

No uso de sistemas computacionais, a acessibilidade tem sido, cada vez mais, percebida como uma característica necessária à qualidade no uso, ou seja, à usabilidade. A usabilidade diz respeito à capacidade de um produto ser usado por usuários específicos para atingir objetivos específicos com eficácia, eficiência e satisfação em um contexto específico de uso (ISO 9241-11). Já a acessibilidade ao uso de sistemas computacionais por seres humanos pode ser entendida como a flexibilidade proporcionada para o acesso à informação e à interação, de maneira que usuários com diferentes necessidades possam acessar e usar esses sistemas.

Assim como a usabilidade, a acessibilidade é um conceito relativo, que depende do entendimento das necessidades dos usuários. Um sistema com boa usabilidade, em linhas gerais, pode não ser acessível a um determinado usuário, e vice-versa. Enquanto, por exemplo, a acessibilidade diz respeito a alcançar a informação desejada e conseguir interagir com um sistema, a usabilidade diz respeito, entre outras coisas, a quão fácil e agradável é usar e navegar por esse sistema.

Se um usuário não consegue alcançar os objetivos estabelecidos na interação com um sistema computacional, a usabilidade deste sistema, relativa a este usuário em específico, fica comprometida. A idéia para um design que respeite e considere as diferenças de forma indiscriminada é que os objetivos estabelecidos na interação com um sistema computacional sejam alcançados (acessibilidade) com eficácia, eficiência e satisfação (usabilidade) por um amplo espectro de usuários.

Nesse sentido, embora seja indispensável o desenvolvimento de tecnologia que atenda às necessidades de públicos com características específicas (ex. pessoas com deficiência motora, pessoas com deficiência visual, pessoas com deficiência auditiva, etc), torna-se cada vez mais importante que esse desenvolvimento esteja articulado a um amplo entendimento do que é promover a acessibilidade e a usabilidade. Esse entendimento pode ser apoiado pelas idéias do Design Universal.
Referências

ISO 9241-11:1998 Ergonomic requirements for office work with visual display terminals – Part 11: Guide on usability.

MELO, A.M., BARANAUSKAS, M.C. Design e avaliação de tecnologia Web-acessí­vel. In: COGRESSO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE COMPUTAÇÃO, 25.; JORNADAS DE ATUALIZAÇÃO EM INFORMÁTICA, 2005, São Leopoldo-RS, 25 à 29 de julho. Anais... p. 1500 - 1544.

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