Antes da chegada da cultura européia no Brasil, por volta de 1549, o que se tinha por aqui era uma educação baseada nos ensinamentos indígenas, na qual predominava a cultura dos deuses e dos mais velhos, não havia uma educação sistemática e sim, informal nos moldes de uma cultura e civilização primitiva. Aprendia-se o ofício da guerra, da caça, da adoração e respeito aos deuses, o que era passado de geração à geração sem nenhum questionamento por parte dos mais novos.
Com a chegada dos portugueses e junto com eles vieram os ensinamentos de uma cultura e religião completamente às avessas do que se tinha por aqui. Os jesuítas começam a catequizar ensinando a ler e a escrever aos índios que nunca antes tiveram necessidade de tal cultura. Esse método funcionou durante 210 anos quando ocorreu uma ruptura nesse método educacional com a expulsão dos jesuítas do Brasil pelo Marques de Bombal. Tentou-se as aulas régias, os subsídios literários, mas a falta de segmento continuou não conseguindo estabelecer-se em terras indígenas um sistema educacional consolidado, mais a diante fundou-se as academias militares, as escolas de Medicina e Direito.
Por todo território brasileiro, desde D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II, pouco se fez pela educação, havendo um atraso cultural muito grande em relação à cultural de outros países, principalmente ao que se refere ao desenvolvimento tecnológico e à busca de novos métodos de aprendizagem.
Em relação à implementação da informática educativa ou do uso da tecnologia na educação podemos retomar à década de 70, quando em 1971 houve as primeiras iniciativas do computador no ensino de Física nos EUA. No Brasil havia a expectativa de inserção da tecnologia na sociedade. No entanto, a tecnologia chegou primeiro na segurança do território com a criação, pelo Governo Brasileiro, da CAPRE – Comissão Coordenadora das Atividades de Processamento Eletrônico, a DIGIBRÁS – Empresa Digital Brasileira e a própria SEI – Secretaria Especial de Informática, que foi criada como órgão executivo do Conselho de Segurança Nacional da Presidência da República, na época da ditadura militar, ou seja, nesse período a tecnologia servia para garantir a integridade do território brasileiro.
Entretanto, já se cogitava a idéia de que a informatização da sociedade brasileira só seria viável a partir da implantação de tecnologia na educação para que o Brasil começasse a criar suas próprias raízes no ramo da pesquisa científica.
Em virtude de já haver essa perspectiva, o Ministério da Educação tratou de estreitar as discussões entre a informática e a educação que provocaria mais tarde a informatização da sociedade brasileira.
Em 1982, o MEC assumiu o compromisso de criar instrumentos necessários para viabilizar o desenvolvimento de estudos, que disponibilizassem a implementação de projetos na área da tecnologia educativa.
Para tanto foram elaboradas as primeiras diretrizes para o setor, estabelecidas no III Plano Setorial de Educação e Cultura – III PSEC, referente ao período de 1980/1985 e que davam o alicerce para o uso das tecnologias educacionais e dos sistemas de computação, visando a melhoria da educação, reiterando a importância da atualização dos conhecimentos técnico-científicos, que já tinham sido expressas no II Plano Nacional de Desenvolvimento – II PND ( 1975-1979).
Estudos apontam as universidades como as anfitriãs no uso da tecnologia educacional entre elas a Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de Campinas (UNICAMP) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Como exemplo da utilização da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem, podemos destacar o trabalho realizado pelo Laboratório de Estudos Cognitivos do Instituto de Psicologia – LEC/UFRGS, que potencializava o uso do computador usando a Linguagem Logo (Em informática, Logo é uma linguagem de programação interpretada, voltada principalmente para crianças, jovens e até adultos. Ela implementa, em certos aspectos, a filosofia construtivista, segundo a interpretação de Seymour Papert, co-criador da linguagem junto com Wally Feurzeig). Esses trabalhos foram desenvolvidos com crianças de escola pública que apresentavam dificuldades de aprendizagem de leitura, escrita e cálculo, procurando compreender o raciocínio lógico-matemático promovendo a autonomia dessas crianças.
“O conceito mais amplo de inclusão digital não se contenta com a acepção mais usual apoiada meramente na distribuição da tecnologia: distribuir em massa o computador e o acesso à internet. Essa acepção está ainda associada à lógica da distribuição própria da fábrica e da mídia de massa. Para superá-la, será preciso exercitar a interatividade on-line, entendida como participação colaborativa livre e plural no ciberespaço, para iniciar o processo de desvencilhamento pessoal e coletivo da lógica da distribuição ou da prevalência do pólo da emissão. Assim, mais do que acesso ao ciberespaço, será preciso formação do usuário” (SILVA, 2010). Isso reporta à necessidade de conhecimento e domínio da tecnologia para a utilização correta da cibercultura para que esta não se banalize com o tempo, daí a importância de uma estrutura acessível de distribuição das mídias atingindo a sociedade no geral sem diferenciar o usuário quanto ao grau de dificuldade cognitiva ou deficiências físicas, isso é um mecanismo necessário para que a inclusão digital ocorra de fato.
A educação se faz de fato a partir da alfabetização, quando o indivíduo passa da condição de “ser primitivo”, incapaz de ter consciência da realidade e formatar opiniões para a condição de ser social e culturalmente evoluído mediante a apropriação do ofício de saber ler e escrever, podendo utilizar a lógica com propriedade a ponto de poder dominar o conhecimento de tecnologia ou equipamentos tecnológicos que garantam a inserção desse indivíduo no ciberespaço.
Para Macedo (2006), a alfabetização é analisada de acordo sirva para reproduzir as formações sociais existentes, ou como um conjunto de práticas culturais que promovam mudanças democráticas e emancipadoras, porém para tanto a sociedade precisa ter consciência de seu papel decisivo e transformador através do saber empírico ou intelectual, construindo mecanismos de mudanças que possam resultar em um espaço significativo para se manter uma identidade idealista e questionadora.
Isso só será possível também, a partir de práticas sócio-culturais e para os dias de hoje as práticas têm que ser tecnológicas mediante a inclusão social e a percepção do espaço cibernético para que o cidadão se forme plenamente dominante da realidade que o cerca.
Texto: Micheline Banhos